TUDO COMEÇA EM PIZZA

Seja de massa com aipim, ou feita com azeite extravirgem e farinha zero-zero, ou ainda preparadas com o genuíno sapere come fare italiano, as pizzas da mais-que-linda São Pedro da Serra têm história, raízes, curiosidades, além de muito sabor. Nesta postagem, vamos conhecer um pouquinho de como as quatro mais famosas pizzarias da vila surgiram, com destaque para as duas que são referência no assunto quando se visita São Pedro.

AS RAÍZES FAMILIARES DA MASSA DE AIPIM

No Brasil, se diz que termina em pizza tudo o que não vai dar em nada.

Não é, assim?

Pois aqui, nesse nosso pedacinho muito particular de Brasil, começa pela pizza – e de massa de aipim, claro – a paixão que leva tanta gente a visitar uma, duas, dez vezes por ano a mais-que-linda vila de São Pedro da Serra, sem nunca se cansar.

A receita, que criou a fama da maior e mais antiga pizzaria da vila, se tornou uma espécie de ritual para quem debuta por aqui. Não visitou São Pedro quem não provou, é o que se fala. E a história da massa se confunde com a de uma família, os Guimarães, com raízes em outro vale paradisíaco, localizado aqui bem perto: a Toca da Onça.

Isaias, em seu lugar favorito: a mesa da diretoria

O primeiro dos Guimarães a fincar os pés na mais-que-linda foi o Isaías, que hoje pode ser visto aboletado na “mesa da diretoria”, no canto esquerdo da varanda da Girassol.

Mas fazer pizza nem passava pela cabeça dele.

De família do campo, com forte tradição na pecuária de montanha, sua ideia era montar um açougue. Acabou também abrindo um bar, onde vendia vários salgadinhos – incluindo um bolinho de aipim. Para ajudar no trabalho, trouxe os irmãos – Cremildo, Antônio e Marilene. Daí a pouco, vieram os casamentos, as filhas, sobrinhos, netos, até formar um verdadeiro clã.

A vida seguia, até que um dia Cremildo veio com a ideia de fazer pizza e inventou a massa usada na Girassol até hoje, elaborada a partir do aipim trazido pelo Zé Maria, um produtor rural com mais de 25 anos de experiência no cultivo dessa raiz.

A partir daí as coisas foram mudando bem rápido:

O que era um negócio, o açougue, virou dois, com o bar, depois três com a abertura da pizzaria, em 1994. Mais tarde, Isaias deixa o açougue de lado e investe num restaurante, o Toca da Onça, que tinha a picanha na tábua como prato forte. Em 2015, o restaurante fecha e a pizzaria ocupa o seu espaço, que era mais amplo. Cremildo por sua vez, cansado de tantos anos no forno, deixa a sociedade para abrir uma pousada, mas acaba voltando, e inaugurando outra pizzaria: a Maravilhas da Serra, que alguns anos depois, durante a pandemia, passa adiante, para voltar à Girassol.

Ufa! Cansou?

Diene, filha de Isaias, comanda a Pizzaria Girassol

Isaias cansou em 2012. Foi quando, depois de tanto trabalho, entrega a uma das suas filhas, a Diene, o comando a pizzaria. Criada desde os quatro aninhos entre massas e mesas, atendimento e cozinha, Diene nem pensou duas vezes. A moça tem farinha no sangue, por assim dizer. E com ideias fermentando na cabeça, a bela gerente da Girassol só fez a pizzaria crescer e crescer, assim como o leque de recheios que vai da muçarela a de truta. Mas casas, mesmo, só a de São Pedro. A genuína Pizzaria Girassol não tem filiais.

A BIOLOGIA DE UM PIZZAIOLO GOURMET

Se a receita da massa de aipim que faz o sucesso da Girassol surgiu de uma migração de curta distância, de uma família que saiu da Toca da Onça para a vila de São Pedro da Serra, a seleção de ingredientes e a forma de fazer a massa e os recheios de outra famosa pizzaria da mais-que-linda têm origem um pouco mais distante. Foi de Campos, no Norte Fluminense, que veio dar cá pelas nossas bandas, um jovem biólogo formado pela UENF, Felipe Ferreira, que conheceu São Pedro meio por acaso, ao acompanhar um amigo até a pousada de uma parente.

Felipe Ferreira fazendo mágica com a massa

Um pouco depois, ele teve a oportunidade de experimentar morar de graça em uma autêntica casinha de roça, numa região mais elevada aqui de São Pedro, com o sugestivo nome de Sibéria. Topou na hora, mesmo sabendo que não teria confortos básicos como luz, telefone, nada. Passados mais alguns anos, ao oferecer uma pizza feita por ele ao dono de um centrinho comercial, ganhou o primeiro fã e a oportunidade – a preço de pai para filho – de alugar um espaço, no segundo andar para inaugurar a Pizzaria Raiz.

Foi o primeiro de quatro endereços.

Depois de uma temporada no Shopping Casino Serrano, a Raiz esteve por um tempo no Largo do Estrela, depois na casa onde hoje está o restaurante Estrelicía, para finalmente pousar no endereço do mítico Alquimia – um bar, palco de muitos shows, que fez história em São Pedro da Serra.

Foram tantas mudanças que, na associação comercial da vila, sempre se brinca que a Raiz foi o motivo de São Pedro da Serra ter desistido de fazer mapas turísticos impressos para optar pela informação digital. Bastava chegar da gráfica a tiragem de cinco mil exemplares de um mapa para já ser necessário outro para atualizar o endereço da pizzaria (kkkkkkk).

Brincadeiras à parte, a Raiz é o que poderíamos chamar de uma pizzaria gourmet. Tudo foi muito bem pensado. Desde a combinação de farinha zero-zero, azeite extravirgem e molhos caseiros com a ampla diversidade de ingredientes para os recheios obtidos sempre junto a produtores locais, como cogumelos frescos, galinha caipira, linguiça e truta defumadas. Além, claro, de outros recheios especiais que chegam de fora, como presunto de parma, muçarela de búfala, camarão…

QUER MAIS? DUAS OUTRAS OPÇÕES QUE MERECEM SER PROVADAS

PICCOLINO – Além dessas duas pizzarias, que são referência no assunto (pizza, claro!), a vila tem duas outras que merecem ser conhecidas. O Piccolino é uma delas.

Aberto em 1999 como restaurante italiano, o pequeno estabelecimento, com apenas três a quatro mesas dispostas na varanda, encurtou seu cardápio ao longo da crise, e pretende se manter, agora, apenas como pizzaria.

Vezio é o dono, chef, garçon e tudo o mais. Sua ideia é que menos é mais. Por isso, abriu mão das oportunidades de expandir o restaurante ou trocar de ponto. Prefere assim. Vindo da Itália, há pouco mais de 20 anos, ele é conhecido pela qualidade de sua massa, feita de farinho de trigo, com longa fermentação e alta digeribilidade, e o capricho no preparo e apresentação de seus pratos.

MARAVILHAS DA SERRA – Instalada por Cremildo Guimarãees, irmão de Isaias e criador da receita da massa de aipim, a Maravilhas da Serra teve o ponto vendido, mas mantem o cardápio. Fica de frente para o Piccolino.